ISSN 1982-1026

Boletim de História e Filosofia da Biologia

Publicado pela Associação Brasileira de Filosofia e História da Biologia (ABFHiB)

Dissertações e teses

JANCZUR, Christine. Fontes originais da História da Ciência no Ensino de Biologia: tradução comentada do Prefácio e das Partes 2 e 3 da obra Introduction à L’étude de la Médecine Expérimentale (1865) de Claude Bernard. São Paulo, 2021. Tese (Doutorado em Ciências) – Departamento de Genética e Biologia Evolutiva – Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo.

 Defesa em 05/07/2021 

Orientadora: Maria Elice de Brzezinski Prestes

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 Resumo: A presente tese é uma investigação histórica, teórica e prática, sobre a tradução de fontes primárias da história da ciência. O objeto tomado como estudo de caso para a pesquisa é o livro Introduction à l’Étude de la Médecine Expérimentale, do médico pesquisador francês do século XIX, Claude Bernard (1813-1878), publicado em 1865. A obra escolhida é considerada um marco de referência para o desenvolvimento do método experimental em Fisiologia Humana, no século XIX. O objetivo geral é o de desenvolver parâmetros epistêmico-metodológicos próprios à tradução de fontes primárias da história da ciência a partir da articulação entre fundamentos de duas áreas de conhecimento: a própria história da ciência e os estudos de tradução. Partiu-se de concepção desenvolvida anteriormente em pesquisa de mestrado para uma tradução bilíngue comentada, que havia sido aplicada a um trecho do mesmo livro de Claude Bernard. No processo, procurou-se estabelecer o que é mais essencial de cada um dos dois olhares disciplinares sobre a tradução. O resultado encontrado foi o de que o olhar da história da ciência, em seus aspectos teóricos e metodológicos, convergia estreitamente com fundamentos teóricos que subsidiaram as opções de tradução anterior. Além da convergência, pode-se dizer que a história da ciência somou razões, ampliou o escopo dos conteúdos das notas da tradução comentada e ofereceu critérios para a categorização dessas notas. Somou razões, porque reafirmou a escolha da tradução dita “estrangeirizante” com base em que é essa modalidade que contextualiza a obra diacronicamente, atendendo, desse modo, preceito básico do trabalho em história da ciência. Ampliou o escopo de conteúdo das notas ao apontar para conjuntos novos de informação que expandem os potenciais de interpretação e análise diacrônica do texto. A história da ciência, por fim, agregou subsídios para a determinação de critérios para a categorização das notas indicadas a uma tradução comentada de obras de ciência do passado. As categorias sugeridas e aplicadas nas notas da tradução comentada que acompanha esta tese são cinco: socioculturais, biográficas, epistêmicas, de atualização científica e sobre o processo tradutório.  A tese está estruturada em quatro partes, com a Primeira Parte voltada aos conceitos relacionados à tradução e ao papel do tradutor, a história das práticas e teorias de tradução e abordagens contemporâneas do estudo de tradução. Na Segunda Parte é apresentado o percurso para a construção de uma metodologia própria à tradução de fontes primárias da história da ciência. Para isso, após análise de práticas dessas traduções e das discussões que apareceram na literatura recente, são identificados aspectos da tradução contextual diacrônica almejada para fontes primárias. Uma análise contrastiva detalhada da tradução ora realizada comparada com tradução anterior ao português ofereceu exemplos esclarecedores dos efeitos sobre o produto elaborado por cada uma das traduções. Com base em tudo isso, são identificados aspectos epistêmico-metodológicos próprios da tradução de fontes primárias da história da ciência. A Terceira Parte contém os resultados da pesquisa sobre Claude Bernard e sua obra, desenvolvidos segundo a metodologia da história da ciência. Após uma análise contextualizada de sua vida e obra, são apresentados os dois principais aspectos do legado deixado pelo livro, o conceito de meio interno e a medicina experimental, além de uma abordagem sobre a função glicogênica do fígado. Na Quarta Parte é apresentada a tradução bilíngue comentada, cujas notas refletem os parâmetros epistêmico-metodológicos decorrentes desta pesquisa. A tradução compreendeu o Prefácio, a Cronologia e as partes 2 e 3 do livro, complementando e desenvolvendo tradução previamente realizada em dissertação de mestrado (Parte 1 do livro de Bernard). Os parâmetros desenvolvidos podem servir de referência ou de ponto de partida para a teoria e a prática de tradução de fontes primárias da história da ciência e indicam a especificidade desse tipo de tradução técnica, apontando para o potencial de delimitação de um tipo particular de tradução. A tradução apresentada aqui almeja um público de estudantes, professores e pesquisadores de várias áreas do conhecimento, desde diversas disciplinas de cursos de graduação das ciências médicas e biológicas, passando por disciplinas metacientíficas, como história, filosofia e sociologia da ciência e ainda por disciplinas das áreas de linguística, de história e de educação científica. A tradução resultante deste trabalho também oferece potencial para abordagem em processo de ensino e aprendizagem contextual das ciências baseado em uso de fontes primárias.

 Palavras-chave:  Claude Bernard, Tradução, Fontes primárias, História da Ciência, Ensino de Ciências, Século XIX.

PINHEIRO, Júlia Chiti. História da Genética e Ensino de Biologia: um estudo visando proporcionar subsídios para a reflexão sobre formação de professores. Bauru, 2021. Dissertação (Mestrado em Educação para a Ciência) – Programa de Pós-Graduação em Educação para a Ciência, Universidade Estadual Paulista.

 Defesa em: 30/07/2021

Orientador: Fernando Bastos

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 Resumo: A Genética é considerada por alguns professores e alunos como a temática mais desafiadora da Biologia e tal dificuldade deve-se à grande abstração necessária para sua compreensão e à alta velocidade de produção científica deste campo recente e promissor. A História da Ciência como abordagem didática ou como conteúdo de ensino pode ser utilizada como recurso de contextualização e superação de tais dificuldades. Os livros didáticos são amplamente utilizados pelos professores de Biologia como materiais fundamentais no planejamento e aplicação de suas aulas. Desde a adaptação dos livros didáticos aos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) até os tempos atuais tem-se, com um grande destaque nos capítulos destinados ao conteúdo de Genética, a história de Johann Gregor Mendel. Este famoso cientista é frequentemente apresentado como um genial monge solitário que, mesmo enclausurado, dedicou muito tempo de sua trajetória de vida para compreender o funcionamento da hereditariedade. Esta apresentação distorcida da realidade faz mau uso do potencial que o episódio histórico mendeliano pode ter ao ser explorado a partir das concepções adequadas sobre a Natureza da Ciência (NdC) e o trabalho científico. Apesar do reconhecimento da importância da abordagem da História da Ciência, ainda ocorre dificuldade para a concretização dessa proposta na sala de aula. Dessa maneira este trabalho tem como objetivo geral identificar como os livros didáticos do Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio (2018-2020) e como professores de Biologia do Ensino Médio abordam a História da Ciência referente ao conteúdo de Genética Mendeliana, a fim de compreender quais são os fatores mais importantes que compõem as causas dessas dificuldades. A metodologia utilizada para a coleta de dados foi a análise documental de livros didáticos aprovados pelo PNELM (2018-2020) e questionários respondidos por professores em atuação na educação básica lecionando no componente curricular de Biologia. Para a interpretação dos dados foi utilizada a análise de conteúdo, com o estabelecimento de categorias a posteriori. Os resultados indicam que os livros didáticos possuem fundamentos de História da Ciência e que a abordagem presente, ainda que por vezes seja superficial ou fragmentada de forma que não incorpora os aspectos mais promissores sobre o episódio histórico mendeliano (que poderiam enriquecer o ensino sobre NdC) tem se mostrado muito mais avançada em termos de coerência teórica com pesquisas em ensino de ciências do que estudos realizado até a década de 2010 indicavam, e que os professores, em sua maioria, apesar dos esforços despendidos nas últimas três décadas em atualizar o modelo de formação inicial, ainda não vivenciaram experiências exitosas práticas de HC em suas graduações, que sentem dificuldade na utilização dessa abordagem e/ou conteúdo didático e evidenciam uma falta de clareza sobre as concepções de Natureza da Ciência que possuem.

 Palavras-chave: História da Ciência; Ensino de Genética; Formação de professores; Saberes docentes.

AZEVEDO, Nathália Helena. Natureza da ciência nos currículos: da concepção à produção de sequências didáticas investigativas. São Paulo, 2021. Tese (Doutorado em Ensino de Ciências) – Programa de Pós-Graduação Interunidades em Ensino de Ciências, Universidade de São Paulo.

Defesa em: 10/09/2021 

Orientadora: Daniela Lopes Scarpa

Resumo: A literatura sobre ensino de ciências aponta que o conhecimento sobre ciência também é necessário para que as pessoas possam avaliar afirmações científicas para a tomada de decisão individual e coletiva em casos concretos. Por isso, documentos curriculares e pesquisas empíricas ao redor do mundo têm passado a incluir nas últimas décadas a natureza da ciência entre suas preocupações. No Brasil, pesquisamos pouco sobre a presença da natureza da ciência em currículos e as pesquisas evidenciam consistentemente a falta de conhecimento sobre o tema por parte de estudantes e professores. Nesse sentido, este trabalho visa identificar como oportunidades de ensino sobre a natureza da ciência estão expressas em diferentes dimensões de currículos de Ciências Naturais. O trabalho foi realizado no contexto da reforma curricular da cidade de São Paulo, cuja rede escolar municipal possui mais de um milhão de estudantes, e considera as dimensões curriculares delineadas no modelo interpretativo de Gimeno-Sacristán: currículo prescrito – no caso, a Base Nacional Comum Curricular do Ensino Fundamental, documento de abrangência nacional, e o Currículo da Cidade de São Paulo, de abrangência local – e currículo apresentado aos professores (os Cadernos da Cidade – Saberes e Aprendizagens, distribuídos em São Paulo como materiais didáticos complementares para as escolas da rede municipal). As estratégias metodológicas empregaram análises mistas, utilizando princípios da análise de conteúdo e ferramentas de estatística textual. Para os currículos prescritos, partiu-se do modelo de ciência integral de Allchin, com apoio de gráficos de frequência, análise de similitude e análise de rede epistêmica. Para o currículo apresentado aos professores, foi desenvolvido e aplicado um instrumento com base na revisão de aproximadamente cinquenta trabalhos selecionados por critérios de relevância para a área, a MAPEA-NdC (Matriz para Análise das oportunidades de Ensino sobre a Natureza da Ciência em Atividades). Os resultados indicaram que as dimensões de credibilidade da ciência relacionadas à natureza empírica e inferencial da ciência aparecem com mais frequência nos currículos do que as relacionadas ao caráter humano, colaborativo e social da ciência, que são bem menos comuns ou até inexistentes. Apesar de os documentos incluírem práticas científicas variando em frequência e em complexidade ao longo dos ciclos de aprendizagem e da intencionalidade declarada de envolver os estudantes no fazer científico, não foram identificadas evidências significativas de que o fazer científico aparece diretamente articulado às dimensões de credibilidade da ciência. O currículo apresentado aos professores ainda é marcadamente implícito e pouco reflexivo, embora traga oportunidades para o ensino contextualizado. Sugere-se que a elaboração de currículos futuros contemple criteriosamente a natureza da ciência, incluindo temas referentes às dimensões de credibilidade da ciência relacionados entre si e com os objetivos de ensino. O trabalho contribui, assim, para as discussões sobre ensino de ciências, pois explora novas possibilidades de análise e sistematiza metodologias e estratégias para o ensino sobre a natureza da ciência. 

Palavras-chave: Abordagem de ensino. Currículo. Estratégia de ensino. Material didático. Rubrica.

CARRIERI, Giuliana Uchôa. A observação de animais ao longo da história da biologia: a descrição de serpentes como estudo de caso para um ensino contextual de ciências. São Paulo, 2021. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências) – Programa de Pós-Graduação Interunidades em Ensino de Ciências, Universidade de São Paulo.

Defesa em: 22/09/2021.

Orientadora: Maria Elice de Brzezinski Prestes.

Resumo: Esta dissertação de História da Biologia, especificamente, de história das subáreas da morfologia e anatomia animal, aborda um estudo de caso, a descrição da serpente, da Antiguidade até o século XVIII. A escolha da serpente deve-se a ser um animal de distribuição cosmopolita, razão pela qual é conhecida pelo ser humano de qualquer tempo e lugar. O objetivo principal da pesquisa é o de realizar uma análise panorâmica, no escopo da très longue durée, do caráter epistêmico e metodológico da descrição de animais em diferentes períodos históricos. Seguindo metodologia de pesquisa em História da Ciência, foram selecionadas e analisadas obras representativas do estudo dos animais da Antiguidade, Medievo, Renascença, Renascimento e início da Era Moderna. A análise das obras originais foi realizada em conjunto com fontes secundárias de história e filosofia da biologia que caracterizam as epistemes de cada um desses períodos. O segundo objetivo da pesquisa foi o de tomar o estudo histórico para desenvolver uma proposta didática investigativa de aulas de ciências do ensino fundamental II. Os objetivos da proposta didática são os de promover o ensino por investigação, desenvolver habilidades de observação e descrição de animais e discutir aspectos de Natureza da Ciência (NdC). Considerando as dimensões epistêmica e humana da ciência, o objetivo é o de desconstruir especialmente dois mitos: o mito do método científico único e da imagem estereotipada do cientista. Para isso, a proposta didática expõe a variação histórica do conhecimento científico e dos modos com que foi desenvolvido, bem como apresenta breves biografias dos autores que deixaram suas contribuições. Como resultado do estudo histórico, por meio do contraste das descrições de serpente nos cinco períodos analisados, foi corroborada a periodização epistemológica das fontes secundárias consultadas. Desse modo, o estudo de caso se consolidou como um bom exemplar da longa história do estudo de animais na Europa ocidental até as ciências modernas do século XVIII. A proposta didática, por sua vez, oferece possibilidades de motivar e envolver os estudantes com a ciência da zoologia e com a própria história das ciências.

Palavras-chave: História da Ciência, história natural, fontes primárias, serpente, natureza da ciência no ensino